quinta-feira, 19 de março de 2009

Entre Abortos e excomunhões, revela-se o machismo Institucional.

Poderia simplesmente deixar morrer a(s) temática(s) e o debate que surgiu em torno do fatídico episódio envolvendo uma “família”, um Equipe de Médicos, uma instituição obsoleta, medieval e um de seus representantes regionais. Más não há porque fazê-lo uma vez que os assuntos envolvidos ultrapassam em muito as questões jornalísticas destacadas.

Não dúvidas sobre a densidade da violência e a profunda extensão dos danos, mesmo com total apoio psicológico, haverá marcas indeléveis que a menina carregará. Foi transformada em mulher. Isso é traumático por ter sido fora de tempo. O rito de passagem à fase irreversível da vida de qualquer ser foi associado à violência, ao nojo, à dor, ao asco.
Poderia ter sido pior. Poderia carregar duas também inocentes crianças igualmente violentadas. Poderia não haver nada disso, pois sonhos, expectativas e futuros estariam irremediavelmente recolhidos a uma urna funerária.

O mais assustador nesta história foi o desnudar seco de posturas medievais, engessamento teológico e machismo. Exatamente no ano de 2009, século XXI, emblemático por si só. Ano em que a CNBB une-se à questão de segurança pública (leia-se: contenção e quiçá erradicação dos índices de VIOLÊNCIA). Ano que comemora, por exemplo, 220 anos de Revolução Francesa ou mais próximo a nós, 120 anos de abolição de escravatura no Brasil, temos a fria apresentação de um comportamento que por trás de sua constituição é misógino (eufemismo: pouco inclinado à mulheres), medieval (repetição) e institucional.

Dia 8 de março próximo passado pareceu-nos uma piada de mau gosto. Uma criança de nove anos e um padrasto –centrais. A mãe (leoa) a equipe de médicos (profissionais e machos, mas na concepção que papai (que era macho) ensinou), um arcebispo profundamente ligado à sua instituição que em seu seio sempre apagou, ou reduziu quando não demonizou as mulheres em sua concepção e constituição. Uns adendos: aborto no Brasil envolvendo violência e riscos de morte possuem amparo legal. Mas é contra a fossilizada doutrina “vaticânica”. O estuprador, que aqui será um ser enviado das instâncias celestiais punidoras, não estuprou a criança. Antes ele purificou este ente que por ter nascido com uma vagina (uma coisa horrível, que não sei como há tantos alegra e a todos permiti o acesso a este mundo para que façam nele todas essas sandices) merece todo sofrimento e dor. Mulher no Brasil tem que ser perfeita. Se transar (o que é pecado – hã?) e engravidar acidentalmente (coisa rara entre religiosos e engessados – certo?) e desejar abortar será tratada qual lixo nos hospitais públicos por ser taxada de irresponsável. É incrível a gama de responsáveis que mesmo com dívidas na praça, filhos que não assumem, impostos não pagos, assumem as vezes de “promotores, juízes e executores de sentença”, todos, exemplos de postura comportamental. Quem acha que mulheres gostam de comemorar o 8 de março com flores levantem a mão? Flor na mão, socos na outra.

A excomunhão de uma criança de nove anos cujo único crime foi ter sido interpretada À luz de um machismo que infelizmente escorre peãs cadeiras institucionais? Quem são as madres que comandam igrejas? Quem são as altas representantes do Vaticano? Até entendo que elas não estão perdendo nada. Mas isso revela como é pensada e gerida a relação homem-mulher à luz religiosa. Como é ser mulher neste ambiente? Não sei, não sou mulher mas compartilho os questionamentos. No Brasil mulheres morrem pelas mãos de seus companheiros. A mão que afaga é a mesma que...Morrem por que é proibido abortar e elas procuram os açougueiros pra fazerem tal. Ganham menos que os homens mesmo quando desempenhando cargos e funções idênticas são mais competentes. Não possuem participação legislativa que valha. Não são qualificadas como capazes que são, de ditar os caminhos e descaminhos de uma sociedade como um todo.

O machismo institucional tem solução. Ou renova-se a instituição, ou boicota-se a mesma. Precisamos por fim ao machismo nascido na lar doce lar. Quem tem filhos homens não deve apóia-los em pequeno detalhes como ter várias “namoradas” enquanto a irmã é questionada inquisitorialmente ao revelar o interesse em um rapaz. O desequilíbrio é machista. O menino sobe em árvores, briga na rua, passa a perna no amigo e todo mundo acha lindo. Mulher brinca de boneca e faz “comidinha”. Isso tem nome. Homens são preparados para a vida e as mulheres para são preparadas para os homens. O menino não brinca de boneca e a menina não joga bola (mito da criação do “Viado” e “sapatão”)*. O preconceito é machista. Esse machismo também precisa acabar. Os pseudo-padrastos (o meu nunca me estuprou) precisam parar de se achar no direito de empurrar seu preconceito apoiado institucionalmente nas vaginas desprotegidas de meninas e mulheres. O aborto e a excomunhão foram meros coadjuvantes, no película onde só há espaço para o machismo institucional e por que não visceral da sociedade brasileira.

* No âmbito do preconceito, não existem homossexuais. Existe o “viado” e a “sapatão”, até pra dar o tom da ironia e zombaria.

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